Notas soltas
Tantas são as coisas com que nos querem atormentar! Guerras de gangues. Suicídios. Homicídios. Mortes lentas. Solidão. Violência doméstica. Assaltos à mão armada. Corpos massacrados. Marcas para a vida. Hospitais. Exames forenses. Polícias. Algemas. Nomes estranhos. Uma discussão contínua. Os tabloides vendem os crimes logo pela manhã. Já não há ardinas para os anunciarem. Há quem os leia nos barbeiros, tascas, cafés e os discuta ferverosamente. Escorre sangue pelos ecrãs das televisões. Não há esfregona que chegue para limpar tantos restos de crimes.
Há uma história que se prolonga pelos tempos. Um certo material bélico que foi roubado. Material que desapareceu e apareceu. Uma história “Chamuscada”. Responsáveis que não sabem nada, outros que nada sabem. Uma total ignorância. Uma comédia escrita por um grande argumentista. Não fosse a coisa triste e preocupante e estaríamos todos a rir a gargalhada solta. Ministros, todas as patentes das forças armadas, vários ramos da polícia, tudo metido na desordem. Uma história de polícias e ladrões. De munições, armas, detonadores e outros perigosos artigos em viagem pelo País. A coisa a ficar perigosa. Passei a ver o correio todos os dias, não me vá aparecer uma pistola esquecida.
Um Juiz vai ser sorteado para um processo importante. As televisões são chamadas para assistir ao sorteio. Temos direito a transmissão directa. Alguém carrega no botão. Acho que a coisa não correu bem à primeira. Por fim lá aparece o nome do douto magistrado. Acho que não havia apostas no “placard”. Os repórteres de serviço desdobram-se a tentar saber a opinião dos réus. Lembrava as “flash interview” dos jogos de futebol. Pessoal acusado de coisas graves e que anda por aí à solta. Pessoal que aparece escudado pelos advogados. Fatos feitos por medida. Óculos escuros. Gente que sorri e ri. Ri-se de nós. Continua a achar-se impune. O pessoal do colarinho branco. Os julgamentos que se arrastam. De recurso em recurso lá vamos. Somos nós que continuamos a pagar tudo.
Cai uma caixa de munições de uma camioneta de transporte militar. Um cidadão comum encontrou-a e foi entregá-la à polícia. Ainda há pessoas sérias. Ainda há esperança para o mundo. Espero que não aconteça nada ao zeloso cidadão.
Já não há ceguinhos para cantarem as desgraças numa esquina qualquer. Uma mulher toca ferrinhos e canta roucas coisas. Um resto de tudo o que já aconteceu. Coisas muito antigas com ar moderno. A revolta de tudo. O aparecimento dos populistas e dos oportunistas. A corrida às armas. O perigo iminente. Apanhar o comboio da moda e tentar cavalgá-lo. Há sempre alguém que corre atrás destas ideias manhosas. É preciso ter cuidado. É necessário pensar.
No outro lado do charco. Lá, onde se fala aquele português delicioso, a coisa está feia. Assistimos a golpes e mais golpes. A golpadas e a golfadas de ódio. Coisas difíceis de aceitar. Ouvimos e ficamos estupefactos. Que retrocesso é este? Onde iremos parar? Tantos votos! Tantas bandeiras e tantas vozes que alguns querem calar!
Vamos pensar e acreditar num mundo melhor. Enquanto proliferam os programas que acirram ódio e cospem sangue, vamos seleccionar um bom filme, um bom documentário, um bom livro e vamos descansar a cabeça. Vamos aprender a defendermo-nos das más ondas. Vamo-nos abrir ao futuro. Vamos tentar abraçar a felicidade.
«Olha que tens razão, estou farta de violência e aldrabões!»
Voz de Isaurinda.
«É verdade, minha amiga, amanhã, por uma questão de higiene, não vamos abrir a televisão.»
Respondo.
«Por mim, estás à vontade.»
De novo Isaurinda e vai, o pano na mão.
Jorge C Ferreira Outubro/2018(184)
Querido amigo, por vezes penso que tudo isto a que assistimos, são coisas do passado, da Historia. Infelizmente, estas “notas soltas “ , são coisas do presente e podem acontecer num futuro próximo.
Obrigado Cristina. Temos de estar sempre atentos. Saber filtrar a informação. Abraço
E quando menos esperamos eis que começa mais uma estória, um romance de cordel! Já temos assunto para milhões de livrinhos. Não fosse tão mau e perigoso estaríamos todos a lê-los e a rir à gargalhada. É como dizes, as personagens são tão variadas e diferenciadas, foram todos às universidades, aos colégios militares, deviam zelar pelas nossas vidas e dos nossos e meteram-se todos numa nau, a nau dos loucos, ou sou eu que enlouqueci?Parabéns pelo teu artigo. Toma lá uma mola e uma corda para pendurares mais este.
Obrigado Fernanda. Brilhante ideia a tua. Obrigado pela mola e pela corda. Da “corda” são estes fulanos. Abraço
A violência é soberana neste mundo onde os nossos filhos,netos,bisnetos vão ter o seu lugar?…que lugar é este que lhes deixamos?…
Por eles,com eles acabemos com o ódio e outros sentimentos negativos…punhamos a paz e o amor como soberanos neste mundo que pode virar no paraíso de todos nós!
Obrigado Maria Pereira. Vamos ensinar os nossos netos, a serem residtentes, a não calarem. Abraço
Amanhã também não ligo a televisão. Boa noite
Obrigado Isabel. Boa decisão. Abraço
Por essas e por outras, a minha televisão, embora relativamente nova, já se reformou há algum tempo. Só faz uns trabalhinhos muito esporádicos e pouco cansativos. Cheguei à conclusão que me provocava muita ansiedade. Em vez de tomar um “Xanax”, calei a televisão e pelo menos assim, embora fazendo estragos na mesma, consegui calar na minha cabeça “Trumps”,” Bolsonaros”,” Maduros” e afins. Pelo menos aquele botão podemos desligar…
Notas soltas acerca de um mundo incerto. Vozes contra vozes. Onde está a consciência da nossa existência? Apesar do desencanto ainda sinto esperança que não destruam o que tanto custou a construir. Num passado recente e doloroso vozes fizeram-se ouvir. Enquanto a televisão nos fere o dinheiro com espaços de publicidade aumenta.
Por companhia um livro que me agarra. Um abraço Jorge.
Obrigado Regina. Lê, lê muito e nunca cales. Abraço
Tinha estado a dar uma volta pelos casos mais mediáticos em algumas 1ªs páginas. De facto meu amigo, o mundo está cada vez mais estranho e violento. A violência não só física, mas igualmente emocional. Que mundo desordenado vamos deixar aos nossos descendentes, filhos, netos, bisnetos…Gostaria que fosse um mundo a evoluir e não um mundo, qualquer dia na idade média. A insegurança é uma sensação ” tramada” e que faz explodir o pior do ser humano. Os outros, sem armas, sem dólares e sem futuro, acabam tantas vezes nas margens da vida, sem se aperceberem que não vivem, mesmo. Querido amigo/ irmão, talvez tenhamos, agora, de não desesperarmos. Talvez no Brasil haja cravos, talvez voltem para todos nós, dias límpidos como o que Sophia cantou. Vamos apagar a TV. Já chega, Beijo à Isaurinda e para ti beijos grandes e ternos da tua irmã/ amiga. <3
Obrigado Ivone. Acredito no futuro, embora sauba de todos os perigos. Vamos libertar as flores. Abraço
Tantas verdades,tanta é a dança das cadeiras que a lotação está esgotada.Tudo gira,e volta tudo ao mesmo em pleno século XXI as atrocidades voltam a querer implantar-se.Viver com medo e sobre o medo é slogan de campanha,o que mais amedronta é a lavagem cerebral tem os seus efeitos naqueles que mais necessitam.É a campanha do terror e da corrupção a prevalecer?…Terei a meu cargo uma história para contar um dia?…
Abraço meu muito amigo.Esperemos que a esperança ainda tenha cor nos nossos olhares
Obrigado Célia. As máquinas multinacionais bem montadas. Um movimento que é necessário travar. Abraço
Que grandes verdades Jorge.
Tanto ódio, e tão fraca a memória dos homens. Que depressa esqueceram o que sofreram nas mãos dos ditadores. Sabe o que me dói mais? Não é que haja uma coisa a que nem me atrevo a chamar homem,mau demais para ser verdade…O que me dói é que tenha tantos apoiantes, é que haja tantos a defender as suas ideias. Eu espero que o Brasil acorde a tempo, mas não acredito. Um abraço amigo.
Obrigado Maria da Conceição. Muitas falsidades. Muita falta de vergonha. Criar o medo e cavalgá-lo. As centrais de desinformação. Resistir. Abraço